O
sujeito histórico de qualquer projeto progressista e mesmo revolucionário que
se preste voltou a emergir em toda a sua dimensão. Os trabalhadores ganharam as
ruas de Buenos Aires neste 29 de abril, deixando de lado diferenças de seus
dirigentes que terão de ser dirimidas sob pena de serem atropelados pelas
circunstâncias. De cento e cinquenta a 200 mil manifestantes expressaram sua
resposta indignada a estes 120 dias de dispensas, subida descomunal de preços
dos artigos de primeira necessidade, desvalorização cambial continuada,
negativa a aumentos prometidos a aposentados e pensionados, destruição dos
avançados programas de saúde popular, liquidação da ‘Ley de Medios’ e ameaças
de pressão a partir dos protocolos de “segurança”.
Trabalhadores exibindo com orgulho suas roupas de trabalho
e as identificações sindicais gravadas em bonés e camisetas, demonstrando ao
governo e aos patrões que desta vez deixaram as fábricas e os mais diversos
estabelecimentos para marchar pelo seu salário, já desvalorizados, e protestar
contra o desemprego compulsivo empregado pelo macrismo.
Organismos de direitos humanos, entre eles ‘Madres Línea
Fundadora’ e ‘Abuelas de Plaza de Mayo’, aderiram à concentração. Manifestaram
sua preocupação com o desemprego tanto no setor público quanto no privado e
proclamaram que esta situação “implica no retrocesso de centenas de políticas
públicas que o Estado proporcionava a toda a população”.
Fazia muito que não se via uma manifestação operária de
tal magnitude: metalúrgicos, caminhoneiros, têxteis, petroleiros, padeiros,
portuários, pedreiros, marítimos, unidos a trabalhadores estatais e das
distintas universidades, abraçados com bancários, comerciários e também com um
bom número de estudantes.
Não faltaram os trabalhadores golpeados pelas sucessivas
crises vividas desde os anos 1990 e que se alinharam sob a bandeira da
Confederação de Trabalhadores da Economia Popular.
Não faltaram, nesta jornada histórica, alguns importantes
movimentos sociais, organizações peronistas e partidos de esquerda que em sua
grande maioria reclamaram a necessidade de uma greve geral.
No palanque, os discursos centraram-se na advertência ao
governo que a paciência tem limite e que salário não é lucro, deixando claro
que se Macri se atrever a vetar a “Lei de Emergência Ocupacional”, a greve
geral será a resposta imediata.
Foi uma lufada de vento fresco esta contundente expressão
de rebeldia operária. O governo Macri não pode ignorar que esta marcante
mobilização produziu uma importante demarcação de território por parte de um
setor da população que não quer retroceder aos terríveis anos 1990.
É verdade que Macri se sente com uma dose de impunidade
suficiente para ignorar as exigências de guinada em suas políticas regressivas,
porém o fato de que seja neste momento um peão disciplinado da estratégia de
Washington para o continente, não significa que não possa ser jogado contra as
cordas. O fato é que desde que pisou a Casa Rosada não tem tido um dia sequer
de sossego. Em cada província que visita encontra vaias, corte de estradas,
paredes pintadas em que o chamam não muito amistosamente.
Se algo faltava, neste 29 de abril a marcha multitudinária
passou a poucos metros da Casa de Gobierno. Homens e mulheres com a pele
curtida, solidários e sensíveis ante as injustiças, a compunham. Falavam com
uma linguagem que os ilustres e bem pagos assessores do macrismo estão longe de
entender. Fazem gestos que podem parecer agressivos e ao mesmo tempo riem e
dançam ao som de tambores e repiques, gritam e cantam.
Bem-vindos os trabalhadores ao cenário político do país,
carta decisiva para pôr freio à escalada direitista do governo Macri.
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