"Depois da divulgação dos primeiros vídeos, em março de 2018, a Promotoria de Justiça instaurou uma notícia de fato após ouvir quatro mulheres" |
O Ministério Público do Estado do Ceará (MP-CE) pediu
à Justiça na noite desta quarta-feira, 17, a prisão preventiva do médico
ginecologista José Hilson de Paiva, prefeito afastado de Uruburetama,
investigado por abusar de pacientes. Imagens divulgadas pelo programa Fantástico,
da TV Globo, indicam a prática dos crimes.
O órgão ressaltou, em nota, que mesmo fora das funções
de prefeito e médico, Paiva é influente na cidade cearense de 20 mil habitantes
e no meio político estadual, “sendo capaz de, diretamente ou por interpostas
pessoas, coagir, constranger, ameaçar, corromper, enfim, praticar atos
tendentes a comprometer a investigação do Ministério Público e da Polícia
Civil”.
A reportagem exibida no domingo, 14, mostrou vídeos de
dezenas de mulheres sendo abusadas e filmadas pelo próprio médico. À Globo, uma
mulher afirmou ter sido vítima de Paiva pela primeira vez aos 14 anos e que só
voltou ao consultório porque ele era o único ginecologista da cidade.
Outra mulher disse que o médico usava a boca para
examinar os seios, com o pretexto de verificar se havia secreção nas mamas. As
gravações mostram ainda que Paiva posicionava as pacientes de costas para
realizar exames, alegando que “era o procedimento”. Em todos os vídeos, é
possível perceber que o médico chamava suas pacientes de “bebê”.
O MP-CE informou que depois da divulgação dos
primeiros vídeos, em março de 2018, a Promotoria de Justiça de Uruburetama
instaurou uma notícia de fato após ouvir quatro mulheres.
“O MP-CE solicitou informações à Polícia Civil, que
logo depois resolveu abrir o inquérito policial. O inquérito foi concluído em
dezembro de 2018, e a polícia sugeriu o arquivamento”, informou. “O MPCE
requisitou novas diligências à polícia. Na área cível, a Promotoria ajuizou uma
ação civil pública (ACP) por improbidade administrativa em desfavor do então
prefeito, no final de 2018.”
Na segunda-feira, 15, um novo inquérito policial foi
instaurado em Uruburetama, quando outras vítimas foram ouvidas. “Pelo menos 18
vítimas já identificadas nas imagens exibidas pela imprensa serão convidadas
para prestarem suas declarações o mais rapidamente possível”, afirmou o
Ministério Público.
O MP-CE declarou ainda que a Promotoria de Justiça de
Cruz também atua no caso. O órgão recebeu os depoimentos das primeiras quatro
vítimas que se apresentaram à delegacia após a divulgação dos vídeos. Paiva
trabalhou como médico da prefeitura de Cruz de 1992 a 2012 e manteve um
consultório particular no município até o ano passado.
Carreira política
O ginecologista era filiado ao PCdoB do Ceará. De 2012
a 2016, foi vice-prefeito de Uruburetama e, em 2018, foi eleito prefeito para
administrar o município até 2020. O partido decidiu na segunda-feira expulsá-lo
dos quadros.
A presidente da Câmara Municipal de Uruburetama, Maria
Stela Gomes Rocha, baixou o Decreto Legislativo 2/2019 e afastou
provisoriamente Paiva do cargo de prefeito, “até decisão final do processo que
apura a denúncia por infração político-administrativa”.
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