O PT perdeu a metáfora
Quando um grupo político dominante perdeu
a metáfora, ele perdeu o país. Pense no que virá à cabeça de um brasileiro se
ele ouvir a seguinte
afirmação: “Mohammed Buhari é o Lula da Nigéria”. Ou “Virginia Romett y é a Dilma Rousseff da IBM”. Ou ainda: “Andrew Tobias é o Vaccari do Parti do Democrata dos Estados Unidos”. Muito provavelmente o brasileiro vai concluir que Buhari está meti do em grandes escândalos na Nigéria, que Virginia Rometty desmantelou a IBM e que Tobias peregrina com uma mochila nas costas em busca de dinheiro de propina para financiar campanhas dos democratas. A má notícia para o PT é que, uma vez perdida a metáfora, ela não pode mais ser recuperada pelo menos uma geração.
afirmação: “Mohammed Buhari é o Lula da Nigéria”. Ou “Virginia Romett y é a Dilma Rousseff da IBM”. Ou ainda: “Andrew Tobias é o Vaccari do Parti do Democrata dos Estados Unidos”. Muito provavelmente o brasileiro vai concluir que Buhari está meti do em grandes escândalos na Nigéria, que Virginia Rometty desmantelou a IBM e que Tobias peregrina com uma mochila nas costas em busca de dinheiro de propina para financiar campanhas dos democratas. A má notícia para o PT é que, uma vez perdida a metáfora, ela não pode mais ser recuperada pelo menos uma geração.
Na última reunião de dirigentes do PT, no fim do mês passado, o
presidente do partido Rui Falcão, recomendou aos presentes a leitura de Alfaiate
de Ulm, do italiano Lucio Magri (1932-2011). O livro narra a democracia do
Partido Comunista Italiano, reconstituindo sua trajetória desde que era a maior
agremiação comunista do Ocidente até a extinção, em 1991. “Os erros estão todos
lá, virou nosso livro de cabeceira”, afirma um integrante da cúpula petista. O
PT nunca viu o fim de tão perto. Em março, uma pesquisa do Datafolha mostrou que
o número de brasileiros que se declaram simpatizantes do PT caiu para 7%, pouco
mais de um quarto do patamar histórico de 30%. Igualmente preocupante para o
partido foi o resultado de uma pesquisa que ele encomendou e que mostrou o ofuscamento
de sua outrora estrela mais fulgurante, o ex-presidente Lula. A corrosão do
petista, segundo um dirigente, revelou-se “bem maior do que a esperada” e longe
de ser um “fenômeno paulista”, está disseminada por todo o país, Nordeste
incluído. O estrago em sua imagem já é tamanho que um petista graúdo e próximo
do ex-presidente lhe recomendou que desistisse de se empenhar em voltar ao
poder em 2018 – em vez disso, deveria se dedicar a tentar “salvar a sua biografia”.
Lula hoje tem receio de sair às ruas e ser insultado, como ocorreu
recentemente com o ministro Jaques Wagner, o assessor especial da Presidência
Marco Aurélio Garcia e o ex-ministro Guido Mantega – para ficar só nos episódios
que vieram a publico. Um parlamentar do PT que pretende disputar o governo
estadual disse que, numa tentativa de driblar a rejeição a partido, está
recomendando a vereadores e prefeito que troquem o PT por outra sigla para
disputar as eleições municipais em 2016. Sem mudança, concluiu ele, os vereadores
e prefeitos serão derrotados, tornando-se inúteis como cabos eleitorais.
A sucessão de casos de corrupção com a ida de um petista
para a cadeia toda semana é só uma das causas da derrotada. Diz o sociólogo
Demétrio Magnoli: “Os partidos da social democracia europeia que no poder
enfrentaram escândalos resistiram porque tinham projetos ideológicos enraizados
e mantiveram sua base de apoio. O PT ficou apenas com os ‘dependentes’ do Bolsa
Família e de outros repasses do Estado. Falta um projeto claro que lhe dê
sustentação”. A leitura de Alfaiate Ulm não trará as respostas que o PT busca.
O PC Italiano demorou a se desvencilhar dos restos do naufrágio soviético e a
perceber a vitória do capitalismo. Mas a corrupção nunca esteve no centro dos
acontecimentos que levaram à sua dissolução. Pense no que virá a cabeça de um
italiano se ele ouvir a seguinte metáfora: “O PT vai no Brasil pelo mesmo
caminho do PCI aqui”.
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